quinta-feira, 10 de abril de 2008

Jardim: vale a pena ter um?


Já não é necessário ser naturalista para ver que nossas cidades são monstruosas. Todos começamos a sentir que o que chamamos "progresso" é, na verdade, uma corrida grotesca que nos torna cada dia mais neuróticos e desequilibrados.

Necessitamos de compensações. O jardim pode ser uma destas compensações. Além de contribuir substancialmente para a saúde do corpo e da alma, a jardinagem poderá constituir ocupação de grande valor educativo, pois nos fará sentir a Natureza, da qual estamos tão alienados. Mesmo quando praticada em escala mínima, a jardinagem restabelece um certo elo entre o homem e a Natureza, abrindo-nos os olhos para seus mistérios. Tivéssemos mais jardins, públicos e privados, seria mais amena e menos embrutecedora a vida nas cidades.
Fazer ou não um jardim que cumpra tão importantes funções depende menos dos meios de que se dispõe do que da própria inclinação e disposição diante da tarefa. Quem é muito rico e dispõe de muita terra é claro que poderá, se quiser, fazer um imenso parque, com paisagismo esmerado. Mas com meios muito modestos também se pode fazer muita coisa, não menos interessante. Grande contentamento e paz de espírito pode-se obter com meios irrisórios. Há os que sabem fazer jardins fascinantes em poucos metros quadrados e que obtêm imensa satisfação no cuidado que lhes dispensam. Até no balcão de uma janela pode-se cultivar um pedaço de natureza, e mesmo num pequeno aquário pode surgir um jardim submerso encantador. A Natureza oferece um sem número de possibilidades. Quem sabe observá-la e tem imaginação nunca cansará de maravilhar-se diante dela. Sempre descobrirá coisas novas e surpreendentes. Aprenderá a deleitar-se com ela.
Assim como eu posso gostar de jardins grandes e variados ou de árvores centenárias com seu vestido de epífitas, posso também deleitar-me com a arte do bonsai, que consiste em cultivar miniaturas de árvores. Em São Paulo, temos um grupo de japoneses que trouxe de seu país esta tradição. São grandes artistas. Alguns possuem exemplares de indescritível beleza. Estas miniaturas passam de pai a filho. Há os que possuem bonsais de 300 ou 400 anos. Dedicam muito tempo, paciência, amor e carinho a suas plantas. Devem obter tremenda satisfação e paz de espírito nesta arte.
Em nosso País, temos um flora exuberante - ainda exuberante, porque, da maneira como hoje a combatemos, em poucos anos já não sobrará muita coisa. Nossa flora é uma das mais ricas do mundo. Temos uma infinidade de plantas e comunidades florísticas preciosas que poderiam ser protegidas ou cultivadas. Há campo para especialistas e para generalistas, para os que gostam de dedicar-se a um só grupo de plantas como para os que preferem ambientes complexos. Para os primeiros oferecem-se as orquídeas, cactáceas, bromeliáceas, suculentas ou samambaias, musgos, aráceas, plantas aquáticas ou carnívoras e muitas, muitas outras. Para quem gosta de ambientes harmônicos, os nossos ecossistemas naturais oferecem exemplos de formas e combinações as mais diversas.
O que nos falta é a mentalidade para ver a beleza do nosso mundo. Somos cegos diante da Natureza. Se o homem industrial moderno está, em geral, alienado da Natureza, entre nós esta alienação atinge seu clímax. Predomina entre nós o esquema mental do caboclo que, quando lhe perguntei pelo nome popular de uma determinada planta silvestre, me olhou muito surpreso e respondeu: "Mas isto não é planta. Isto é mato!". Usava a palavra "mato" com entonação profundamente depreciativa. Eu quis saber então sua definição de "planta" e de "mato". Deu-me um olhar ainda mais incrédulo e condescendente e explicou que "mato" era tudo aquilo que vingava sozinho, que não prestava, que devia ser exterminado, e que "planta" era o que se cultivava, o que tinha valor, que dava dinheiro. Quando me afastei, tive a impressão de que ele me considerava um pobre louco, por não saber fazer distinções tão evidentes.
Quem tem este esquema mental nunca saberá, é claro, fazer um jardim realmente interessante, nem terá vontade para tanto. Fará, quando muito, um jardim convencional, do tipo que predomina entre nós, com canteiros geométricos, de preferência rodeados de concreto e com plantas desfiguradas pela tosa ou poda mutiladora. Quando enxergar uma árvore velha coberta de belíssimas epífitas, só pensará em como limpá-la de suas "parasitas". Nos loteamentos, preparará o terreno pela terraplanagem violenta, arrasando tudo o que é natural, para então construir as casas em uma paisagem lunar onde, para fazer um jardim todo artificial, terá que trazer terra vegetal de outro lugar, causando assim mais uma depredação no mato natural em que obtém esta terra.
Só saberá fazer um jardim que lhe proporcione realmente satisfação e serenidade aquele que aprende a amar de fato a Natureza, porque este se dedica pessoalmente às suas plantas. Nunca entregará seu jardim aos que vêm armados com serrote e tesoura de podar e que se dizem jardineiros, mas que são apenas massacradores de plantas. Só quem faz de seu jardim um hobby poderá dele tirar prazer compensador.
Não temos demonstrado a mínima sensibilidade nem reverência pelas coisas da Natureza. Já houve entre nós os que ofereciam "concreto verde" para aqueles que reclamavam mais verde. Nossas árvores urbanas estão todas em estado deplorável, por causa da absurda moda das mutilações periódicas, geralmente praticadas pela própria administração pública. Em ambientes como este, é difícil que floresça uma cultura jardinística como a que podemos observar em alguns países europeus.
Mas nunca é tarde para começar.
Fonte: Ecologia - Do Jardim ao PoderJosé LutzenbergerPorto Alegre 1985

Como se livrar de formigas no jardim, em casa


Formigas: no jardim, na cozinha, na sala... o que fazer?

As formigas são a praga que mais incomoda o homem, seguidas por baratas e cupins, conforme levantamento realizado em 2000 pelo pesquisador Paulo Roberto Corrêa, especialista em Entomologia Urbana, entre 350 empresas controladoras de vetores e pragas. Os problemas trazidos por formigas podem variar do simples incômodo a picadas e até mesmo a infecções hospitalares, de acordo com pesquisa realizada entre 1999 e 2000 pela docente da Pontifícia Universidade Católica de SP, Marcela Pellegrini Peçanha. Segundo ela, esses insetos podem transportar bactérias em seu corpo. Em outro trabalho, do professor Odair Correa Bueno, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), verificou-se a presença de 23 espécies de formigas num só hospital.

As espécies
Segundo a pesquisadora Ana Eugênia Campos Farinha, do Instituto Biológico de SP, há entre 20 e 30 espécies de formigas que vivem em estreito contato com o homem. Entre as mais comuns estão a Tapinoma melanocephalum (formiga-fantasma); a Paratrechina longicornis ou Paratrechina fulva (formiga-louca); a Linepithema humile (formiga argentina); a Monomorium pharaonis ou Monomorium floricola (formiga-faraó); a Wasmannia auropunctata (formiga pixixica), e também as dos gêneros Crematogaster (acrobatas); Brachymyrmex (sem nome comum); Camponotus (carpinteiras); Solenopsis (lava-pés) e Pheidole (cabeçudas), além de saúvas (gênero Atta) e quenquéns (gênero Acromyrmex), estas mais encontradas no meio rural.
As picadas das lava-pés, formigas pequenas que formam ninhos com montes de terra solta em áreas gramadas ou calçadas, podem resultar em leve coceira ou até em choques anafiláticos em pessoas alérgicas. "É que, a cada picada, a lava-pé solta veneno", diz Ana.
As carpinteiras são assim chamadas porque fazem ninhos em locais onde há madeira – troncos de árvores, batentes de portas e janelas, rodapés, forros, gavetas e armários –, escavando-a para fazer o ninho. De hábitos noturnos, elas também se instalam dentro de aparelhos eletrônicos, como videocassetes – hábito também observado nas formigas-faraós. De acordo com Ana, o número de cabeçudas e argentinas tem crescido. "Ambas as espécies expulsam outras formigas que já estejam no local. Estas se mudam e ampliam a infestação de todas as espécies".

Controle
O controle desses insetos pode ser químico ou natural. Iscas formicidas de ação lenta são as mais eficientes, porém nem todas funcionam com todas as espécies. "Iscas para saúvas não funcionam com formigas urbanas", diz Ana. Inseticidas convencionais também não são a melhor forma de combatê-las. "Matar esses insetos com inseticida não é eficiente, pois dentro de casa fica no máximo 30% da colônia. O resto fica no ninho".
O proprietário da MRZM – Indústria e Comércio de Produtos Contra Pragas Urbanas, Francisco Mascaro, indica iscas atrativas microgranuladas. Espalhadas em pequenas porções nos armários e locais de passagem das formigas, elas atraem os insetos que, em vez de comer a isca no local, levam-na para o ninho, dividindo-a com a colônia. O produto, venenoso, mata o formigueiro. Uma caixa da isca com cinco envelopes de 2,5 gramas custa em média R$ 10 e é suficiente para um apartamento de 100 metros quadrados. "A quantidade de veneno é pequena e não prejudica o ser humano".
O gerente-regional da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) de Santa Catarina, Osvaldir Dalbello, diz, porém, que o controle químico deve ser a última alternativa e indica a prevenção como melhor solução: higienizar os ambientes, diminuir a oferta de alimentos e mantê-los bem acondicionados, embalar e dispensar diariamente o lixo e vedar frestas de azulejos "pode ser um bom começo", diz.
Os aparelhos de ultra-som são, segundo Mascaro, outra opção. O aparelho altera o campo magnético e faz com que as formigas percam a referência de localização. "Ele funciona com eletricidade, não esquenta e não causa danos ao homem." O ultra-som cobre um raio de até 200 metros quadrados, independentemente da existência de barreiras físicas. O preço médio é de R$ 170,00.
Remover ninhos visíveis, como os das lava-pés, é uma alternativa que exige persistência, explica Ana Eugênia. Joga-se, no caso, uma solução de metade água, metade água sanitária ou apenas água fervente nos ninhos. A aplicação deve ser feita à tarde, para que a água sanitária não queime o gramado.
Para eliminar formigas residenciais é preciso identificar ninhos em potencial, como buracos em azulejos. Com uma seringa, aplica-se uma mistura meio a meio de água e detergente e, posteriormente, fecham-se os furos com parafina, cimento ou sabão. Se as formigas voltarem, significa que o ninho da rainha não foi eliminado. Repetem-se as aplicações até atingir o ninho principal.

Repelentes
Alguns métodos repelentes também são indicados, conforme explica o professor Bueno, da Unesp Rio Claro. Ele esclarece, porém, que não é possível livrar-se da totalidade dos insetos só com essas receitas. A sugestão é distribuir punhados de cravo-da-índia, folhas de louro, cascas de limão ou de tangerina – que possuem óleos essenciais repelentes – pelos cantos dos armários ou da casa. Dentro do açucareiro, pode-se colocar um sachê feito com gaze e cravo-da-índia. Em todos esses casos, é necessário fazer a troca a cada duas semanas, para que o cheiro não se dissipe.
Para a área rural, são indicadas iscas formicidas de ação lenta contra formigas cortadeiras. Dependendo do princípio ativo, podem ser tóxicas às formigas, agindo por ingestão, ou ao fungo que as alimenta no ninho, levando os insetos a morrer de fome. Devem ser usadas de acordo com as instruções do fabricante.


Fonte: estadao.com.br